“Dor De Burro”

“Dor De Burro”

Porque temos a famosa “Dor De Burro” quando praticamos desporto?

O que é a Dor de burro?

A denominação de “Dor de Burro” é um termo popular que engloba uma série de distúrbios do aparelho digestivo ou dos músculos abdominais. Caracteriza-se por uma ar que aparece na porção superior do abdómen logo abaixo das últimas costelas, localizada à direita (mais frequentemente), na região mediana ou à esquerda. Por vezes, a dor aparece no ombro direito (trata-se duma dor irradiada do abdómen pelo trajeto do nervo frénico e geralmente com origem num distúrbio igualmente digestivo).
Na maior parte das vezes, a dor aparece no decorrer de um esforço tipo endurance, agrava-se com o decorrer do tempo se o esforço prossegue e desaparece com a paragem. Geralmente aparece como uma dor pouco intensa (tipo moinha) e agrava-se progressivamente chegando por vezes a ser muito violenta (tipo facada), obrigando o atleta a parar e dificultando-lhe a respiração. Raramente é acompanhada de náuseas, vómitos ou outros sintomas digestivos. Se o esforço físico prossegue, a dor torna-se muito violenta e por vezes não cede à paragem. A dor pode aparecer novamente no dia seguinte, no início de novo esforço físico ou quando o atleta comprime a zona dolorosa. A dor limita muito o rendimento competitivo do atleta e muitas vezes começa logo no aquecimento.
Frequentemente aparece em início de época, quando o atleta está fora de forma ou em esforços mais intensos que o habitual. A dor tem uma intensificação psíquica pois o atleta começa a senti-la, pensa que o seu rendimento competitivo vai ser prejudicado, enerva-se e a dor aumenta ainda mais.
Pessoalmente, fomos muitas vezes vítimas desta dor e adotávamos a seguinte estratégia: procurávamos alhearmo-nos da dor, esquecê-la e executávamos inspirações profundas pelo nariz estimulando assim o diafragma procurando um relaxamento do mesmo. Na nossa experiência pessoal não obtivemos resultados positivos com esta manobra. Outros ingerem medicamentos analgésicos (Aspirina, Dolviran) ou antiespasmódicos (Buscopan) procurando o alívio da dor. Embora com resultados positivos, não recomendamos o seu uso pois estudos recentes revelaram alta incidência de sangue nas fezes após a tomada dos referidos medicamentos durante a competição.
Em desportos coletivos onde são permitidas substituições do tipo rotatório, aconselha-se a paragem por uns minutos. Segundo estudos realizados nos países do leste europeu, a “Dor de Burro” é muito frequente no meio desportivo e principalmente nos praticantes de esforços tipo endurance. Eis alguns números da sua incidência:

Atletas de fundo – 4,3%

Triatlo – 10,3%

Esquiadores (UslalonB e descidas) – 10,2%

Ciclistas de fundo – 2,2%

Remadores – 1,5%

Quais as causas?
Muito se tem falado, investigado e discutido acerca das suas causas, pois parecem ser múltiplas. Vejamos algumas teorias explicativas:

Excesso de gases no intestino – Por excesso de produção de gases pela flora bacteriana intestinal. Alimentação com excesso de glúcidos, fibras ou líquidos com gás levam à formação de muito gás no intestino, o qual se distende e provoca dor. Em 1987, no Campeonato do Mundo de Cross em Varsóvia, mais de metade da equipa nacional foi vítima da “Dor de Burro”. No final, muitos se queixaram que após e durante a prova, expulsaram muitos gases. A causa foi má adaptação a uma alimentação diferente da nossa e excesso de ingestão de água com gás pois as águas minerais eram todas gasosas.

Má digestão – Geralmente acompanhada de vómitos e dores na região mediana, por vezes não foi respeitado o intervalo de três horas entre a última refeição e a competição. Já todos sentimos esta sensação ao tentarmos dar uma corridinha após uma refeição.
Aquecimento deficiente – O que levaria a um acréscimo súbito da circulação sanguínea a nível muscular, que obrigaria a uma maior necessidade de volume sanguíneo. Tanto o fígado (localizado à direita) como o baço (localizado à esquerda) são importantes reservatórios de sangue, que ao contraírem-se estimulavam as suas cápsulas muito enervadas, causando a dor. Esta teoria serviria igualmente para explicar o aparecimento da dor após uma refeição (segunda causa).

Movimentos de tração dos ligamentos viscerais – Estes ligamentos fixam as vísceras (órgãos) abdominais à parede do abdómen que por serem muito enervados, se tornam dolorosos ao serem tracionados durante os movimentos competitivos.

Espasmos musculares dos abdominais – Geralmente durante competições disputadas ao frio e à chuva.

Colite espática ou colon irritável – Trata-se de um síndrome psicossomático (manifestações orgânicas de perturbações psíquicas) caracterizado por dores abdominais intensas e períodos de diarreia alternando com períodos de prisão de ventre. Estudos recentes revelaram que aparece frequentemente em atletas havendo desencadeamento da dor pelo stress competitivo.

Abastecimentos durante ou imediatamente antes da competição – Alimentos sólidos muito açucarados, líquidos muito açucarados ou ingeridos em excesso poderão originar indisposição abdominal com dor, náuseas e vómitos.

Hiperacidez gástrica – Um trabalho estatístico realizado na ex- União Soviética demonstrou que a hiperacidez gástrica, causadora de dores na região mediana do abdômen, náuseas e vómitos, alterações do apetite e paladar e azia, é muito frequente nos atletas.

Alguns dados da sua incidência no trabalho citado:
Praticantes de endurance – 48% dos-atletas tinham hiperacidez gástrica.
Praticantes de força e velocidade – 36% dos atletas tinham hiperacidez gástrica.
A hiperacidez gástrica caracteriza-se por um excesso de acidez no estômago.
Alterações inflamatórias da vesícula e vias biliares – Um estudo realizado por Yakovlev demonstrou que muitos atletas vítimas da “Dor de Burro” apresentavam alterações inflamatórias da vesícula e vias biliares secundárias a cargas físicas stressantes.
Durante o esforço físico, há uma estase (paragem) da bílis nas vias biliares e na vesícula que leva à inflamação das mesmas e ao aparecimento de dor. Yakovlev afirma que “uma boa nutrição não depende só dos alimentos que ingerimos mas também do estado funcional do nosso aparelho digestivo”. Estas alterações inflamatórias manifestam-se por “Dor de Burro” à direita durante o esforço ou após ingestão de refeição abundante, e mau sabor na boca pela manhã.
Causa desconhecida – Um grande número de casos engloba-se neste grupo que tenderá a diminuir com o evoluir da investigação científica.

Que cuidados alimentares deveremos ter para evitá-la?
Nem todas as “Dores de Burro” são devidas a erros alimentares mas decerto que eles representam a sua causa em alguns casos e servem de facto desencadeante ou agravante em muitos outros. Eis alguns cuidados alimentares que deveremos ter: Não abusar nas refeições pré-competitivas de alimentos que provoquem gases abdominais como leguminosas, ovos, couves, cebola, etc.
Cada atleta procurará saber que alimentos deve evitar.
Evitar beber água com gás ou bebidas carbonatadas (cola, laranjadas, sodas, etc) nas refeições pré-competitivas.
Evitar refeições muito ricas em glúcidos na última refeição antes da competição, pois um excesso dos mesmos pode causar problemas digestivos.
Recordamos que a riqueza em glúcidos da última refeição em nada contribuirá para a constituição das reservas hepáticas e musculares de glicogénio.
Não abusar dos alimentos ricos em fibras pois podem causar gases abdominais.
Respeitar o intervalo de três horas entre a última refeição e a competição.
Ingerir alimentos de fácil digestão na última refeição, evitando um excesso de gorduras e pratos muito cozinhados de difícil digestão.
Não ingerir líquidos açucarados antes da competição.
Não ingerir qualquer tipo de líquido incluindo água nos últimos 30 minutos antes da competição.
Evitar o uso de alimentos nunca antes experimentados na última refeição antes da competição.
Nos abastecimentos competitivos:

Evitar o uso de sólidos se o esforço físico é inferior a três horas.
Nunca ingerir alimentos ricos em gorduras e proteínas.
Beber água pura ou água com glucose ou frutose em solução a 2%.
Beber pouco de cada vez e regularmente. Estômago com excesso de líquidos pode causar problemas.
Não utilizar líquidos com mais de 20 gramas de glúcidos simples por litro de água.
Não ingerir pastilhas de glucose ou sal.
No caso de se ter diagnosticado hiperacidez gástrica, ter os seguintes cuidados:
Alimentos recomendados: sopa de vegetais e batata, pratos com carne e peixes magros acompanhados de vegetais e legumes, manteiga, leite, ovos, mel e compotas.
Alimentos a evitar: caldos de carne e peixe, gorduras vegetais, pickles, fritos, produtos fumados, conservas, rábanos, bebidas carbonatadas, café, bebidas alcoólicas e pão integral.
Fazer múltiplas e pequenas refeições.
No caso de se terem diagnosticado alterações da visícula e/ou vias biliares, ter em atenção os seguintes cuidados:
Evitar todos os alimentos que estimulem a secreção biliar, causem contração das vias biliares ou vesícula e irritem o fígado. Por isso, evitar gorduras em geral, pratos gordurosos e fritos, peixe e carne gorda, gema de ovo, bolos cremosos, caldos de carne e peixe, gelados, bebidas frias e frutas ácidas.
Preferir sopa de legumes, peixe e carne magra cozidos, pão branco, leite e derivados magros, frutas não ácidas, mel, compotas, etc.
Fazer múltiplas e pequenas refeições ao longo do dia. Além dos cuidados alimentares, deveremos ter outros como fazer um aquecimento eficaz e usar vestuário adequado sê-o clima estiver frio, procurar apoio psicológico caso se diagnostique um colon irritável e consultar um médico em casos de “Dores de Burro” frequentes e rebeldes.
Se a “Dor de Burro” aparecer, deveremos dimin

uir o ritmo competitivo ou parar, tentar esquecê-la através da concentração noutras ideias, executar inspirações relaxadas e profundas pelo nariz, comprimir a zona dolorosa, evitar posições viciosas do corpo e procurar relaxá-lo. Nunca deveremos ingerir medicamentos analgésicos durante o esforço.
Texto retirado da “ Alimentação do desporto – 3º edição” Dr. Luis Horta

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